Juis de Fora
São muitos os caminhos que fazem a história de Juiz de Fora. Desde o século XVIII, a construção de rotas de ligação entre a província de Minas Gerais e o porto do Rio de Janeiro é também a narrativa do surgimento e consolidação da cidade. Primeiro foi o Caminho Novo, aberto por Garcia Rodrigues Paes no inicio dos anos setecentos, a pedido do rei de Portugal para dar passagem a burros de carga com ouro e diamantes extraídos das minas.
O movimento de tropas provocou o surgimento de ranchos, hospedarias e postos de fiscalização do transporte das riquezas. Um dia estaca a tropa, para o descanso. Do pouso transitório surgido de interesse contigente, surge o núcleo. A estalagem improvisada permanece após a retirada. Outros viageiros chegam, encontram gente, estanciam. A venda mostra-se, e aos domingos os lavradores reúnem-se para a reza e a conversa. O compadrio completa o quadro social da aldeia nascente.
A estalagem atrai o ferreiro, consolida o negócio da venda. Arria a mochila, campeando o mascate, que ali pega no negócio definitivo, antes de carecedor de andança e canseira. A rancharia começa a atrair os interesses das lavouras vizinhas. Um centro de pousada, com gente afoita e vivida. Afinal, vira rua de feira franca, movimentada e, em pouco tempo, ganha trepidação e gente nova. Estende-se o arruado, acompanhando o ribeirão. Cresce o arraial. Com algum tempo surgem as cidades como Borda do Campo (Barbacena), João Gomes (Santos Dumont) e Santo Antônio do Paraibuna (Juiz de Fora).
O êxodo das minas faz crescer os pontos esparsos. O viajante Mawe, então visitaria Juiz de Fora. Saint-Hilaire descreve o que era uma fazenda pouco depois, e Alexandre Caldoleug esclarece, em 1821, que a sede do município era um lugarejo com duas ou três choças. Entretanto, a passagem de tropas e de gente com destino às fazendas fluminenses dava àqueles sítios um movimento constante. Proporcionava a colocação do sobejo das lavouras na rota de um comércio sempre crescente.
Em 1836 o governo da província encarregaria Henrique Halfeld de construir a estrada do Paraibuna. O engenheiro aproveitaria o curso do Caminho Novo, mas mudou a rota a partir da região hoje conhecida como Benfica. O engenheiro, já na margem direita do rio, traçou a reta em torno da qual se desenvolveu a cidade, deixando em abandono o antigo núcleo de povoação que surgira a partir da velha fazenda do Juiz de Fora, um magistrado que deixou muitas histórias, dúvidas e o curioso nome para a cidade.
Em 1853, daria início Mariano Procópio à construção da estrada de rodagem, concluída nove anos depois. Estabelecia-se, a partir de então, um serviço de diligências e de carroças para o transporte de mercadorias e passageiros a Petrópolis. Em 1857, Juiz de Fora já possuía uma agência bancária; e quatro anos depois a Estrada União e Indústria chegava à cidade de Paraibuna. Podia-se, enfim, num dia só, ir à cidade imperial ou ao Porto de Estrelas.
A construção da estrada merece destaque, também, pela formação de uma colônia de imigrantes germânicos (Colônia Dom Pedro II), contratados por Mariano Procópio para trabalhar na obra e que seriam responsáveis pelos primeiros núcleos industriais da vila. Os primeiros colonos alemães eram artífices e chegaram em 1856, instalando-se na antiga Vilagem, atuais bairros Fábrica e Mariano Procópio. Os demais, em número de 1152 (mais do que toda a população da cidade), chegaram em 1858 e foram contemplados com lotes de terras nos atuais bairros de São Pedro e Borboleta, voltados para a produção de gêneros de subsistência.
A presença desses colonos na pequena cidade muito contribuiu para a criação de manufaturas, verdadeiros embriões do futuro desenvolvimento industrial que marcará a cidade no final do século XIX. Fundaram-se pequenas fábricas ou oficinas, com pequeno capital acumulado durante a permanência na Cia União Indústria ou de poupança trazida pela imigração italiana que se seguiria.
A cidade cresce na segunda metade do século. A lavoura cafeeira permitiria a acumulação de capitais para um surto industrial. O entreposto comercial e a maior concentração de capital foram fatores aliados para o crescimento da cidade. Na década de oitenta, transferindo-se para Juiz de Fora, Bernardo Mascarenhas dá início ao plano de fundação da primeira usina hidrelétrica da América do Sul, a Companhia Mineira de Eletricidade. Fora o pioneiro da indústria têxtil em Minas, montando a Fábrica do Serro, em Tabuleiro Grande, fazendo aparecer, em 1858, os primeiros metros de tecido de algodão.
Na década de 80 se organiza o espaço urbano. Surgem estabelecimentos de ensino importantes. Bondes de tração animal, telégrafo, telefone, água a domicílio com a implantação da iluminação pública, incrementando-se serviços como a fundação, em 1887 do Banco Territorial e Mercantil; de Minas Gerais e do Banco de Crédito Real (1889), por iniciativa de fazendeiros e a comunidade local. Com a energia elétrica, as facilidades de transporte e a disponibilidade de mão-de-obra, principalmente com o incremento da imigração italiana, a atividade industrial se desenvolve, sendo liderado pelo setor têxtil, seguido o da produção de alimentos.
Em 1911, Juiz de Fora despontava com 60 estabelecimentos industriais, chegando a 108 em 1921. O desenvolvimento industrial encontra, entretanto, na década de 20, seus limites. Dentre os fatores destaca-se a transferência de recursos para o Rio de Janeiro, que passa a drenar recursos seja na própria atividade comercial, seja pela transferência de capitais na forma de juros de empréstimos. Por outro lado, o oeste paulista, com o desenvolvimento da lavoura cafeeira em bases estritamente capitalistas desloca a hegemonia econômica para São Paulo, desequilibrando outras economias, como a juizforana. Internamente, com a decisão de transferir e implantar a capital em Belo Horizonte, Juiz de Fora deixa de ser destino de aplicação de recursos durante muitos anos. Estes fatores combinados atuaram no sentido do esvaziamento econômico da região.
O setor industrial tem também uma outra face. A face dos trabalhadores nacionais e estrangeiros que vão constituir uma numerosa classe que se caracteriza por uma longa história de lutas por melhorias salariais e condições de trabalho. A ocorrência de greves de grande impacto ocorridas em 1912, 1920 e 1924, são evidências de que o núcleo operário com influências anarquistas, comunistas e reformistas, conseguiram ultrapassar os controles impostos pela classe dominante. Foram criadas diversas associações operárias, voltadas para a defesa dos direitos trabalhistas. Uma das mais importantes foi criada em 1920, a chamada Federação Operária Mineira. A história da classe operária de Juiz de Fora desvenda fenômenos capazes de facilitar a compreensão do presente.
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