sexta-feira, 18 de março de 2011

BH: cenário e personagem - Patrus Ananias


| Patrus Ananias |

“Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava... São tantos os nomes que nos fazem pensar na contribuição de Minas e de Belo Horizonte à literatura brasileira e mundial”


BH: cenário e personagem


Certa vez recebi, como prefeito de Belo Horizonte, a visita do escritor peruano Mario Vargas Llosa, agora Prêmio Nobel de Literatura, e tivemos uma longa e boa conversa. Certa altura, quando lhe falei que Guimarães Rosa havia estudado muitos anos em Belo Horizonte – Colégio Arnaldo e Faculdade de Medicina da UFMG –, ele se mobilizou por inteiro e perguntou-me com ênfase se ele havia estudado e nascido aqui. Expliquei que estudou e viveu um tempo, mas não nasceu aqui; nasceu numa pequena e simpática cidade, Cordisburgo, nome lindo, que fica a menos de 100 quilômetros de Belo Horizonte. Vargas Llosa incluía
Guimarães Rosa entre seus grandes mestres na arte de pensar e escrever. Sabia tudo sobre ele.
Fiquei, depois, pensando: não só Guimarães Rosa estudou e viveu em Belo Horizonte seus anos de formação. Logo de início me ocorreram dois nomes definitivos: Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava. Mas são tantos outros que nos fazem pensar sobre a contribuição de Minas e, particularmente, de Belo Horizonte, à literatura brasileira e, no caso dos três mencionados, à literatura mundial.
Se BH embalou os sonhos de muitos jovens que mexeram fundo no imaginário e na cultura do Brasil, tornou-se também tema de importantes obras literárias. Inspirou dois noturnos: de Mário de Andrade e de Dantas Mota. Pedro Nava deu-nos Beira Mar, em que a grande aventura belorizontina dos anos 20 do século passado recebe um título pelo avesso – as montanhas e os geraes do sertão cedem lugar ao murmúrio distante das ondas do mar. A vocação universal de Belo Horizonte espraia longe as suas fronteiras...
Pedro Nava integrou, em Belo Horizonte, o grupo esplêndido que reunia Carlos Drummond de Andrade, Milton Campos, Emílio Moura, Abgar Renault, Aníbal Machado, Cyro dos Anjos.
Cyro dos Anjos deu-nos dois livros importantes sobre BH, O Amanuense Belmiro e suas memórias, Mocidade, amores, que foram integradas na segunda parte do A Menina do Sobrado. O Amanuense é um grande romance em sua discrição machadiana. Mocidade, na melhor tradição proustiana, interage a dimensão memorialística com os territórios da ficção. BH, mais do que um cenário, é uma personagem múltipla.
A capital mineira contribuiu dando ao Brasil grandes escritores. Veio a geração dos anos 40 e 50: Fernando Sabino, Otto Lara Rezende. Autran Dourado, que tem a obra impregnada de Minas, fez em BH o curso de Direito na UFMG. Murilo Rubião, do inesquecível O ex-mágico, deixou sua marca na cultura de Belo Horizonte e de Minas, compondo um legado no qual se destaca o Suplemento Literário.
Os anos nos trazem Benito Barreto, com sua admirável tetralogia Os Guaianãs. Lembremos de Oswaldo França Júnior e Roberto Drummond, este último uma espécie de cronista enamorado da cidade. Rui Mourão apresenta-se com uma obra singular e instigante, culta. Bartolomeu Campos de Queirós integra os superiores padrões de convivência, prosa e poesia, ficção e memória, compondo literatura para todos os tempos e idades. E surge Jaime Gouvea do Prado, com um romance inquietante sobre o altar das montanhas de Minas. Carlos Herculano Lopes com uma obra admiravelmente cinematográfica. Tem ainda os sertanejos, que voltaram às fontes e às raízes, como Luiz Vilela, em Ituiutaba, e Drummond Amorim em Bocaiúva. Eles muito aprenderam com “a alma encantadora das ruas” de Belo Horizonte. E como olvidar Sérgio Sant’Ana, e Alcione Araújo com o seu denso romance Nem mesmo todo o oceano?
Poderia citar tantos mais. De antemão já peço desculpas. O limite do espaço abriga omissões. Mas é apenas para exemplificar a importância da literatura na história de Belo Horizonte. E o que vale para a literatura vale para as demais artes, vale para a filosofia, para o direito, para a história, para a ciência política. Belo Horizonte tem a marca da cultura e da inquietação do pensamento aberto e libertário.

Publicado Revista Encontro

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Protesto de um torcedor Atleticano!!!



Protesto de um Atleticano !!!
Alô Redação
Time Negro e Time Azul

Tenho acompanhado desde 1945 a frustração do time azul e sua torcidinha, na época a 4ª de Minas, hoje a 1ª simpatizante de Minas, pois é constituída de 20% de crianças, 20% de gays (por causa da camisa azulzinha com 5 estrelas  separadas, aí que lindo!!!), 40% de avós e avôs (por causa dos netinhos) e 20% de torcedores que vão a campo só quando vê que vai ser moleza ganhar, não é Sr Regis Gomes?



Sr Régis deve ser torcedor de 1965 para cá, adepto do seu presidente Perrela,  o maior mentiroso e mau agradecido presidente dos azuis. Ele diz para vocês que seu time nasceu em 1921, quando na verdade o Cruzeiro nasceu em 1940. Até a história do seu time ele esconde. Pois é um time sem identidade. Este time nasceu com o nome de YALE, mudou para IPIRANGA depois de levar de 9x0 do América, passou a ser PALESTRA e por fim após tomar de 9x2 do Galo mudou para CRUZEIRO.
O time negro que você diz só ter um título, porque não sabe ler, é só pegar a enciclopédia do galo, foi o 1º em tudo no Brasil. 1º campeão dos campeões, 1º time a excursionar pela Europa abrindo caminho para todos os outros times brasileiros, times brancos, pretos, vermelhos, azuis etc, 1º e único campeão do centenário de BH, 1º Bicampeão da Comembol, 1º time a ganhar  o título de utilidade pública de Minas Gerais e o único a bater a seleção brasileira de 1970.

Todos estes títulos ganhos nos gramados e não títulos comprados, como os seus, do Sr. Ricardo Teixeira.
Os 40 títulos rurais nós não contamos mesmo não, pois foram ganhos encima de um timeco azul, que tem um presidente mentiroso e uma torcida babaca e otária como disse o Adriano Gabirú que falou a verdade e mandou ele embora.
O fanatismo da torcida negra é pelo futebol raçudo deste time.

Sr. Régis, em vez de falar do time negro, você devia questionar seu presidente anão Zé Perrela, porque ele não homenageia o maior presidente do seu time azul, que foi o Sr. Felício Brandi. Se não fosse ele vocês não eram azuis e sim cinzas. Ele fica homenageando a reveria só porque marcou três gols no galo. Se o Kalil fosse homenagear quem fez três gols no cruzeiro ele teria o Guará, o Mario de Castro, o Obina, o Tardelli, até o Tucho, não é Sr. Régis.
Questione também o seu presidente porque ele entregou o campeonato para o Ipatinga na maior marmelada que eu já assisti em toda a minha vida.

É isto aí, Sr. Régis Gomes dos Confins do mundo, está tão longe que não conhece a história do Time Negro e Time Azul.
Marley Vieira – Torcedor Atleticano de Coração !!!








A centenária história do Galo – 100 anos de paixão

Fundação do clube
galo-100.jpg

O então Athlético Mineiro Football Club surgiu em 25 de março de 1908, numa reunião de estudantes no Parque Municipal (em Belo Horizonte), onde costumavam jogar futebol com uma bola de meia. A primeira partida foi realizada quase um ano depois, em 21 de março de 1909, com vitória por 3 a 0 sobre o Sport Club Futebol. Aníbal Machado entrou para a história como o autor do primeiro gol atleticano. Em 1912, o clube mudou a grafia do nome para a atual, Clube Atlético Mineiro.
O primeiro título
webcard2.gif
Começa uma linda e emocionante história em alvi-negro, com muitos gols, titulos e alegrias!!!
Foi o Galo que faturou a primeira edição do Campeonato Mineiro, em 1915. O título veio com cinco vitórias, um empate e uma derrota, num torneio que reuniu cinco participantes: América, Cristóvão Colombo, Higiênicos e Yale, além do Atlético. Apesar do início com sucesso, a segunda conquista do estadual só veio em 1926, interrompendo a seqüência de dez títulos do América. Esse foi o maior jejum de troféus da história alvinegra.

Trio Maldito e construção do estádio
construcao-estadio.jpg
Time do Atlético no jogo de inauguração do Estádio Lourdes, em maio de 1929.
O fim da década de 20 ficou marcado pelo surgimento do Trio Maldito e pela construção do Estádio Lourdes. Dentro de campo, destacavam-se Jairo, Said e principalmente Mário de Castro. O último tornou-se o terceiro maior artilheiro da história do Galo, com 195 gols, atrás de Reinaldo (255) e Dadá Maravilha (211). O mais impressionante é que os 195 gols foram marcados em cem jogos, segundo estatísticas do clube. Enquanto o trio brilhava em campo, o Galo construía seu estádio, que ficou pronto em 30 de maio de 1929, com capacidade para 5 mil pessoas. Na partida de inauguração, o time bateu o Corinthians por 4 a 2.
Campeão do Gelo
campgelo.gif
Jogadores desembarcando com a taça do Gelo.
Presente no hino do clube, o título de “campeão de gelo” não faz referência a um campeonato, mas a uma série de amistosos realizados na Europa em 1950. O ano era representativo: o Brasil havia perdido em casa a final da Copa do Mundo para o Uruguai. Portanto, a excursão era vista como uma chance de recuperar – ou afundar de vez – a imagem do futebol do país. E o time foi bem. Disputou dez jogos em Alemanha, Áustria, Bélgica e França, ganhando seis, empatando dois e perdendo dois. Os adversários derrotados foram Munique 1860, Hamburgo, Schalke 04, Sarrebruck, Anderlecht e Stade Français. Ainda faltavam quatro amistosos, quando o empresário responsável pela excursão fugiu com o dinheiro.
Título brasileiro
atletico71.jpg
Time de 71, que conquistou o primeiro titulo brasileiro!
Vencedor da primeira edição do campeonato estadual, o Galo foi campeão também do primeiro Brasileirão, em 1971. O time comandado pelo técnico Telê Santana disputou 27 jogos, com 12 vitórias, dez empates e cinco derrotas, marcando 39 gols e sofrendo 22. No triangular final, o Atlético venceu o São Paulo por 1 a 0 no Mineirão e o Botafogo pelo mesmo placar no Maracanã. A equipe da final foi Renato, Humberto, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola (Spencer), Dario e Tião. O artilheiro da competição foi Dadá Maravilha, com 15 gols.
Era Reinaldo
reinaldo.jpg
Reinaldo em sua comemoraçao, punho erguido.
O período entre 1976 e 1983 ficou marcado por vários craques e títulos. Vestiram a camisa alvinegra: Cerezo, Éder, Nelinho, Luizinho, Paulo Isidoro, Palhinha, João Leite e Reinaldo, o maior artilheiro da história do clube. O time conquistou o título mineiro de 1976 e o hexa entre 1978 e 1983. Ainda chegou a duas finais de Brasileiro, mas foi derrotado pelo São Paulo em 1977 – ano em que teve, disparado, a melhor campanha entre os 62 participantes – e pelo Flamengo em 1980.
Conquistas continentais
galo-95.jpg
Time de 95, com muitos jogadores que iriam conquistar a Comebol em 97.
Os anos 90 ficaram marcados pelos primeiros títulos continentais do Atlético. O time conquistou a Copa Conmebol duas vezes, em 1992 e 1997. Na primeira, na edição de estréia do torneio, derrotou o paraguaio Olimpia na decisão (após eliminar Fluminense, Atlético Junior-COL e El Nacional-EQU). Em 1997, superou o Lanús, na célebre final da pancadaria. Antes, passara por Portuguesa, América de Cáli-COL e Universitario-PER. No cenário nacional, o Galo ficou pelo meio do caminho diversas vezes, como no vice-campeonato de 1999. No regional, foi superado pelo rival Cruzeiro.
Queda e recuperação
galoucura01.jpg
Imensa torcida alvi-negra que empurou o time na conquista da série B em 2006, quebrando o recorde de pulblico das 3 divisões 3 vezes. A maior e mais apaixonada torçida do Brasil!
O novo século tem trazido dissabores para o torcedor atleticano, que amargou um jejum de títulos entre 2001 e 2006 e ainda viu a equipe cair para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro em 2005. A recuperação na competição nacional, no entanto, foi rápida, já que no ano seguinte foi conquistado o retorno à elite com o título da Série B. O ano de 2007 deu um alento ao Galo, campeão estadual sobre o Cruzeiro com uma goleada por 4 a 0 na final.
Hoje em dia o Clube Atlético Mineiro nos dá muito orgulho, e muitas esperanças com as novas contrataçoes pro centenário!!!
Viva, viva o Galo Doido minha vida!!!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

PERSONALIDADE MARCANTES DE MINAS: AURELIANO CHAVES

PERSONALIDADE MARCANTES
ANTÔNIO AURELIANO CHAVES DE MENDONÇA
(13-01-1929; 30-04-2003)
    


 O ex-Governador de Minas Gerais e ex-Vice-Presidente da República Aureliano Chaves nasceu na cidade sul-mineira de Três Pontas, mas está vinculado a Itajubá por várias circunstâncias mercantes de sua vida: Em Itajubá veio completar os preparatórios para o curso superior, e em Itajubá tomou-se Engenheiro, e foi nesta cidade que exerceu suas primeiras atividades profissionais, tomando-se funcionário da Prefeitura Municipal, e também professor do Instituto Eletrotécnico (ora Universi-dade Federal de Itajubá - UNIFEI), e foi aqui nesta cidade que encontrou a companheira ideal de sua existência, casando-se com essa virtuosa itajubense. 
E foi Itajubá que ele escolheu para vir repousar no berço da Eternidade.
          Aureliano Chaves era filho de Dr. José Vieira de Mendonça, cirurgião dentista, e de D. Luzia Chaves de Mendonça.  Eram sete os filhos do casal Dr. Vieira e D. Luzia: Antônio Aureliano, o mais velho, o único dos irmãos que se dedicou à política; Dr. José Vieira de Mendonça Filho, médico cardiologista; D. Maria da Glória Chaves de Mendonça, diplomacia em Administração de Empresas; Manuel Inácio Chaves de Mendonça, engenheiro eletricista; D. Maria de Lourdes Chaves de Mendonça, também técnica em Administração de Empresas; Cláudio Augusto Chaves de Mendonça, economista e Dra. Níobe de Mendonça Gurgel, especialista em nutrição escolar.
         Antônio Aureliano Chaves de Mendonça fez o curso primário na Escola "Professora Maria Augusta Vieira Correia", e o colegial no Ginásio Municipal São Luiz, escolas de Três Pontas, sua cidade natal.  Em meio a adolescência, veio fazer o curso científico (então assim chamado o curso médio em três anos, correspondente mais ou menos ao 2º grau) no Colégio de Itajubá, quando então ficou conhecendo Itajubá, que seria sua terra adotiva, e a beleza, o encanto e a fina educação da graciosa jovem Minervina, que se tomaria em D. Vivi, sua idolatrada esposa.  Terminado o “científico", ingressou Aureliano no então Instituto Eletrotécnico de Itajubá (ora Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI), diplomando-se com a turma de 1953.  Quando ainda aluno, e então o Presidente do Diretório Acadêmico do IEI, em 29-05-1952 liderou (era sempre líder em tudo) uma comissão composta de 42 acadêmicos, que, no Rio de Janeiro, no Palácio do Catete, solicitou ao Presidente da República, Getúlio Vargas, o interesse e apoio para a federalização do IEI, que, naqueles idos, passava por precaríssima situação financeira, na iminência da extinção.  O Presidente, diante da completa e exata exposição de Aureliano Chaves, prometeu o apoio solicitado, e o encaminhamento do processo foi feito, o qual seria sancionado pelo seu sucessor Nereu Ramos.
         No ano seguinte ao de sua formatura, em 03-05-1954, na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida-SP, Aureliano Chaves casou-se com D. Minervina Sanches de Mendonça (Dona Vivi), itajubense, filha de Humberto Sanches (de quem, neste opúsculo, estamos oferecendo uma sinopse biográfica) e de D. Guiomar Schimidt Sanches.  Foram três os filhos de Aureliano e D. Vivi: D. Maria Guiomar Sanches de Mendonça, Antônio Aureliano Sanches de Mendonça e D. Maria Cecília Sanches de Mendonça.
Logo em seguida à diplomação, Aureliano Chaves foi engenheiro de obras rodoviárias, entre as quais a ligação de Itajubá a São Bento do Sapucaí, e o serviço de terraplenagem de Cumbica-SP.  E foi engenheiro de Departamento de Obras da Prefeitura Municipal de Itajubá, quando prestou seus bons serviços à nossa municipalidade em pavimentações, estradas, pontes rurais, obras de saneamentos, etc.
         À então EFEI (ora UNIFEI - Universidade Federal de Engenharia de Itajubá) prestou a sua cooperação como Professor de 1955 a 1982.
Em 1958 iniciou sua carreira política como Deputado Estadual pela LTDN, tendo sido reeleito em 1962.  Tomou-se o Líder da Bancada da UDN na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, e Líder do Governo Magalhães Pinto.  E foi eleito Deputado Federal pela ARENA, reeleito em 1970 quando, durante as festividades e júbilo popular pela conquista do tricampeonato da Seleção Brasileira no México, declarou que "o futebol é o melhor antídoto contra o comunismo" ("O GLOBO" de 01-05-2003).
       Foi Professor, em Belo Horizonte, do Instituto Politécnico da Universidade Católica de Minas Gerais.
Foi Diretor-Técnico das Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRÁS).
       Era o Secretário de Estado da Educação e de Viação e Obras Públicas de Minas Gerais no Governo de Magalhães Pinto (1961-1965).
       Foi Membro da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e da Comissão de Minas e Energia e de Ciência e Tecnologia da mesma Câmara, e Presidente dessa Comissão por dois anos consecutivos.  E também Vice-Presidente da Comissão Especial de Política Ambiental da Câmara dos Deputados.
Era o Vice-Presidente do Instituto de Pesquisas, Estudos e Assessoramentos do Congresso Nacional (IPEAC) e Presidente de várias Comissões Mistas do Congresso Nacional.



Desempenhou Aureliano Chaves muito outros elevados cargos, como: Representante do Brasil na Conferência Sobre Energia Nuclear, em Viena (Áustria), em 1967; Relator da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Energia Nuclear; Pela Câmara dos Deputados em 1974 foi oficialmente designado para saudar o General Ernesto Geisel pela posse deste militar como Presidente da República; Membro do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas; Membro do Comitê Nacional de Grandes Barragens.
Pela Assembléia Legislativa, foi eleito (a pedido de Ernesto Geisel, segundo a Imprensa mineira), Governador de Minas Gerais de 1975 a 1978.  Referindo-se a Aureliano Chaves, diz o jornal "ESTADO DE MINAS" de 02-05-2003: "Na década de 70, teve atuação destacada em comissões técnicas do Congresso, em especial aquelas ligadas ao setor de energia.  Tomou-se interlocutor do então presidente da PETROBRÁS, General Ernesto Geisel.  Empossado Presidente da República em 1974, o general indicou-o ao Governo de Minas.  Deu racha na UDN: Aureliano rompeu com Magalhães Pinto que apontava o nome de José Monteiro de Castro.  De 1975 a 1978 governou Minas.  Com a bênção de Geisel, afastou-se do Palácio da Liberdade, para, em 1979, assumir a Vice-Presidência da República.  Teve uma relação conturbada com o Presidente João Baptista de Figueiredo".  Geisel, na realidade, se entusiasmou com o seguro e profundo conhecimento de Aureliano em assuntos de energética, de petróleo e de recursos naturais do Brasil para se tomar uma grande nação, e a admiração pela alta cultura que encontrou no mineiro de Três Pontas foi o que o levou a indicá-lo para o governo de Minas e para a Vice-Presidência da República, que o fazia não por simples simpatia ou amizade, mas por encontrar em Aureliano Chaves o homem capaz de trabalhar conscientemente para a grandeza da Pátria.
          Assim, pois, a pedido de Ernesto Geisel (muito respeitado e admirado pelos colegas militares), foi Aureliano o indicado para Vice-Presidente da República na gestão João Baptista de Figueiredo, que, embora não sendo o três-pontano o candidato de sua opção, aceitou-o para não desgostar o velho e dileto amigo Geisel.  "Figueiredo morreu odiando o Vice-Presidente que Geisel escolheu para ele" - diz o jornal "ESTADO DE MINAS" de 02-05-2003.  E mesmo inimigo, Aureliano o substituíra interinamente várias vezes no Palácio do Planalto.  "Doente, o titular teve de se licenciar várias vezes", deixando a Presidência ao Aureliano - informa o mesmo jornal.
Aureliano era Membro da Academia Mineira de Letras.  Escreveu vários trabalhos, destacando-se estudos técnicos ou científicos, entre os quais Máquinas Elétricas, Linhas de Transmissão, Energia Nuclear Educação e Desenvolvimento e Política Econômica dos Governos da Revolução.
Foi Antônio Aureliano Chaves de Mendonça o Ministro de Minas e Energia do Presidente da República José Samei (1985-1990).
Com os então senadores Marcos Maciel, José Samey, Jorge Konder Bomhausen e Guilherme de Figueiredo, o Vice-Presidente Aureliano Chaves fundou o Partido da Frente Liberal (PFL), do qual ele próprio, Aureliano, foi o Presidente de Honra.
         Aureliano realizou algumas viagens ao exterior.  Foi aos Estados Unidos e ao México em pesquisas dos novos métodos adotados na educação e modernidade na vida escolar, quando Secretário da Educação de Minas Gerais.  Quando Ministro, visitou os principais centros de estudos nucleares da França, Alemanha e Estados Unidos.  E aos EUA novamente, a convite do governo americano, quando Vice-Presidente da República.
Aureliano Chaves recebeu as mais honrosas Medalhas e Condecorações das mais altas instituições e entidades, civis, militares, governamentais e políticas.
         Em 1989 o PFL lançou a candidatura de Aureliano Chaves à Presidência da República.  Os mais votados, então, foram Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, que retomaram às umas, em 2º turno, vencendo Fernando Collor.  A tentativa de Aureliano foi inteiramente frustrada, pois "alcançou menos de 1% dos votos do 1º turno" (Enciclopédia Larouse Cultural, 18º volume, pág. 4467) Até mesmo a maioria dos três pontanos foi desfavorável ao conterrâneo.  Aureliano Chaves tinha cultura e visão política mais que bastante para um estadista de renome.  Faltou-lhe, porém, a popularidade, a qual o Lula tinha de sobra, embora patentemente despreparado para o cargo.  Se ao governo do Estado e à Vice-Presidência da República Aureliano não chegou por vontade popular, quis ele apagar essas injúrias ditadoriais em sua trajetória política alcançando a Presidência da República por decisão das umas, mas estas lhe foram adversas.  "Apesar de ter feito sua carreira política dentro do regime militar, foi sempre um homem democrático e nacionalista, que sempre defendeu os interesses de Minas e do Brasil" - disse Mauri Torres.  Presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais ("ESTADO DE MINAS" de 02-05-2003).

Em Itajubá, o corpo de Aureliano foi levado para a Matriz de N. S. da Soledade, onde o Pe.  João José de Almeida celebrou a Missa de Corpo Presente. (Foto reproduzida dojomal "ESTADO DE MINAS" de 02-05-2003)
         Após a derrota no pleito de 89, Aureliano Chaves, sobremaneira decepcionado com as opções do eleitorado, tomou firme decisão de não mais se candidatar a cargo nenhum.  Poderia, sim, ainda preocupar-se com as umas caso o filho fosse indicado, por algum partido, para disputar uma curul na Assembléia Legislativa.  Aí, então, entraria com sua força para ele, não para si mesmo.  Foi o que revelou ao jornal "O GLOBO" (edição de 20-02-1990), que estampava o seu retrato a cavalo, como um cowboy, em sua fazenda (foto que aqui estamos reproduzindo), quando então declarou ao repórter que renunciara, de vez, a política, e que, desde então, estava cuidando de "melhorar o gado e as suas plantações de café".
         Antônio Aureliano Chaves de Mendonça morreu às 12h 35 min de 30 de abril, em Belo Horizonte, por falência múltipla de órgãos, no Hospital SOCOR da capital mineira, onde estava internado desde o dia 14 de abril.  Dia antes havia sofrido uma cirurgia numa perna para a correção de problemas circulatórios.
         O Senador Marco Maciel (segundo noticiou o jornal "ESTADO DE MINAS" de 02-05-2003), que fez uma visita ao Aureliano Chaves cerca de dois meses antes da morte do três-pontano, quando este se encontrava no Hospital Sarah Kubitschek, afirmou que a morte de D. Minervina (Dona Vivi), ocorrida em 11-10-2002 "contribuiu para o falecimento prematuro do marido".  O próprio Aureliano revelou-lhe, então, "que estava muito triste com a morte da companheira".  E lamentou o ex-Governador de Minas ao Senador Marco Maciel: "Isso alterou substancialmente o horizonte de minha vida".
         O corpo de Aureliano Chaves foi levado para o Palácio da Liberdade de Belo Horizonte, onde foi velado, e ali recebeu a visita de todas as altas autoridades.  O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, foi representado pelo seu Vice Clésio Andrade.  Na manhã seguinte foi levado para Três Pontas, sua cidade natal, onde foi também velado, e onde, na matriz de Nossa Senhora d'Ajuda, foi celebrada a missa de corpo presente.
         Em seguida, o féretro do ex-Govemador e ex-Vice-Presidente da República veio para Itajubá, onde, na Matriz de Nossa Senhora da Soledade, o Padre João José de Almeida celebrou uma segunda missa de corpo presente, levado em seguida o corpo para a nossa necrópole, onde Aureliano foi sepultado no mesmo jazigo da esposa, conforme seu desejo.
         A imprensa mineira salientou o descaso do Governo Federal para com a memória de Antônio Aureliano Chaves de Mendonça, ex-Vice Presidente da República, ex-Ministro, ex-Deputado Federal.  O Palácio do Planalto ignorou a morte deste Presidente em várias ocasiões.  Não houve decretação de luto oficial, assim quebrando uma velha tradição de manifestação de pesar nacional, ficando esquecido o Decreto 70.274. O Pavilhão Nacional não flutuou, à meia haste no seu aceno pungente e significativo do adeus.  Não houve representação oficial de Brasília, nem se ouviu uma palavra da Presidência que delineasse a personalidade, o civismo, os méritos patrióticos do homem que a Nação acabava de perder!...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

NEM SÓ DE DRUMMOND E GUIMARÃES ROSA VIVE A LITERATURA MINEIRA

NEM SÓ DE DRUMMOND E GUIMARÃES ROSA VIVE A LITERATURA MINEIRA
Eliane Vasconcellos[1]
       A educação feminina, na virada do século, estava estreitamente relacionada com as atividades desenvolvidas pelo “belo sexo”. A mulher da classe social mais alta deveria aprender apenas algumas das chamadas prendas de sociedade: tocar piano, falar francês, bordar, costurar. A agulha se sobrepunha à caneta. Isto ocorria porque a mulher era formada para casar e não para manter-se. O cuidado com a casa e com os filhos era a sua aspiração máxima. Para Maria Inácia d’Ávila Neto,
A escolaridade das mulheres obedeceu a sérios preconceitos que envolvem um problema mais amplo: a valorização do papel de dona-de-casa. A orientação familiar é ainda eminentemente voltada para a preparação da mulher para o casamento[2].
         Enquanto os jovens da classe social mais alta iam, de início, para a Europa estudar e depois com o surgimento das escolas superiores no Brasil, dirigiam-se para São Paulo, Recife e Rio de Janeiro, as moças ficavam em condição de semi-escravatura. Mesmo as senhoras mais ricas da sociedade eram analfabetas. Depois da vinda da família real para o Brasil, a situação da mulher sofre algumas modificações. Nesta época as recepções começaram a se tornar freqüentes e se exigia a participação delas.
Os dotes mais apreciados na sociedade são os da dança e do canto, porque permitem brilhar nas reuniões. Na alta sociedade exige-se também música, principalmente piano, bem como o conhecimento das línguas francesa e inglesa e de desenho. As moças aprendem com facilidade a traduzir e a escrever a língua francesa, mas encontram em geral certa timidez em falá-la[3].
         A educação no Império continua bastante deficiente, e o que se ensinava no país era destinado aos meninos. Havia o ensino elementar, secundário e superior, sendo que as meninas só tinham acesso ao elementar, isto porque “uma mulher já é bastante instruída, quando lê corretamente as suas orações e sabe escrever a receita da goiabada. Mais do que isto seria um perigo para o lar”[4].
         A completa falta de instrução contribuiu para que ela assumisse atitudes de incapacidade e de medo. Ela estava quase que completamente excluída do processo educacional. Não era estimulada a desenvolver sua capacidade intelectiva. Segundo John Luccok, a leitura feminina devia restringir-se ao livro religioso: “estava assentado que o saber ler para elas não devia ir além do livro de rezas, pois isso lhes seria inútil, nem tampouco se desejava que escrevessem, a fim de que não fizessem... um mau uso dessa arte”[5].
           Mesmo assim muitas mulheres souberam equilibrar a relação da agulha e da caneta e transgrediram os padrões culturais. Através de sua produção nos legaram uma tradição que é importante ser resgatada.
O escrever para a mulher requeria muita força de vontade e a própria transcendência do seu sexo, pois se afastavam de sua atividade primordial de esposa e de mãe, deixando de lado quem ela devia servir e cuidar. Elas conseguiram burlar esta imposição e nos legaram obras que sem dúvida alguma precisam ser recuperadas. Temos de “ver com novos olhos, de penetrar um texto a partir de uma nova direção crítica, um ato de sobrevivência”[6].
            Esta comunicação é o resultado de um projeto que tem como objetivo primeiro o levantamento de texto de escritoras brasileiras do século XIX. A iniciativa de organizar um grupo de pesquisa em torno deste tema partiu da professora Zahidé Muzart que me convidou para fazer parte do projeto, que foi apresentado e aprovado[7] pelo CNPq. O grupo inicial era composto por Zahidé Muzart, da Universidade Federal de Santa Catarina, na coordenação; Rita Schmidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Eliane Vasconcellos, da Fundação Casa de Rui Barbosa. Dada a amplitude do trabalho, outras pesquisadoras que já desenvolviam este tipo de levantamento em seus estados, se integraram ao grupo.
           O primeiro volume da nossa antologia já foi publicado, e está hoje em segunda edição, contempla as escritoras nascidas até 1860 e consta de 52 nomes. Delas escolhemos para apresentar hoje 3 poetisas mineiras: Bárbara Heliodora, Beatriz Brandão e Prisciliana Duarte de Almeida, sendo que esta última não conxta do  primeiro volume da antologia.
         Tivemos o cuidado de fazer um estudo criterioso de cada uma das escritoras pois a nossa intenção é a de produzir artigos sobre elas, não simples verbetes. Não queríamos também saber se esta literatura escrita por mulheres era melhor ou pior do que a escrita pelos homens, mas sim descobrir o que ela representa na nossa historiografia literária.
         Bárbara Heliodora[8], assim como Marília, foi uma das musas da Inconfidência. Seu nome completo era Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira. Teria nascido em fins de 1758, na cidade de São João Del Rei. Para alguns estudiosos, era descendente de uma das famílias paulistas mais ilustres: a de Amador Bueno, o Aclamado. Seus pais não possuíam uma situação financeira estável.[9]
         Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora viveram juntos por algum tempo, só se casaram, por portaria do bispo de Mariana, de 22 de dezembro de 1781, quando Maria Ifigênia, filha do casal, já contava três anos de idade. Joaquim Norberto de Sousa e Silva nos diz que o coronel Alvarenga se ligou

a uma senhora distinta pelo seus dotes naturais e esmerada educação. [...] Foi D. Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, [...] para Alvarenga o que foi D. Maria Joaquina Dorotéia de Seixas para Gonzaga. Ambos eternizaram em seus versos as duas belezas mineiras, que faziam o encanto de São João Del Rei e de Vila Rica. Mas a amante, a noiva e a esposa do coronel Alvarenga era superior à amante de Gonzaga, pela imaginação brilhante de que a dotara a natureza, pelo estro ardente que possuía. E o comércio das musas entreteve por algum tempo o amor em que se abrasavam, até que os ligaram os laços conjugais[10].
         Desta união nasceram quatro filhos. Os estudiosos de Bárbara Heliodora fazem sempre menção à beleza de sua filha Maria Ifigênia. Segundo Joaquim Norberto “tão formosa aos doze anos que lhe deram o nome de princesa do Brasil e essa antonomásia tornou-se popular”[11].
         Alvarenga Peixoto foi preso em 1789. Em abril de 1792, teve sua sentença de morte declarada, sendo comutada, em 2 de maio 1793, para a de degredo e seus filhos e netos foram declarados infames. Diz a tradição que, quando os inconfidentes foram traídos, Alvarenga Peixoto, querendo amenizar a pena que receberia, pensou em denunciar ao Visconde de Barbacena os pormenores da revolução. Antes, porém, resolveu conversar com sua esposa que o dissuadiu de tal intento. Américo Werneck talvez seja o responsável por esta tradição, pois romanceia o fato, reconstituindo em A heroína da Inconfidência o diálogo travado entre os dois, onde realça o caráter forte da poetisa.
        Os bens do casal foram seqüestrados em 1789, por ocasião do degredo de Alvarenga Peixoto. Depois, Bárbara Heliodora solicitou a devolução de metade de seu patrimônio, pois era casada “com carta de metade” alegando que de seu matrimônio existiam filhos. No que foi atendida.
A poetisa viveu entre a Vila de Campanha da Princesa e a de São Gonçalo de Sapucaí. Segundo alguns nossa poetisa foi declarada demente e teria morrido maio de 1819, na freguesia de São Gonçalo do Sapucaí, mas de acordo com o espólio não morreu tão desgraçada como querem alguns autores. Quanto ao problema da demência de Bárbara há alguns esclarecimentos que precisam ser feitos. Domingo Carvalho da Silva baseado em documentos informa que foi uma manobra usada para anular uma escritura de venda de bens. Mas João Evangelista de Alvarenga, declara “ao dito seu pai que por amor do Brasil foi degredado, perdendo sua mãe o juízo”, dizendo depois, em 1813, achar-se sua mãe “possuída de uma contínua melancolia”.
         A história de que Bárbara Heliodora teria morrido demente, recitando poemas pelas ruas de Campanha, com os cabelos soltos, desgrenhados, olhar desvairado e vestidos rotos é um mito. Provavelmente, em decorrência dos problemas que enfrentou, ela tenha passado por um estado de depressão que, mal interpretado, deu origem a sua propagada loucura. Como vimos, após a morte de Alvarenga, ela conseguiu a devolução de metade de seus bens, estando à frente dos negócios até os cinqüenta e poucos anos.
         A produção literária de Bárbara Heliodora é bastante reduzida e controvertida. A ela são atribuídos os poemas “Conselhos a meus filhos” e um soneto dedicado a Maria Ifigênia, mas nem todos os estudiosos são unânimes nesta atribuição.
         Em 1830, Januário da Cunha Barbosa publica no quarto caderno do Parnaso Brasileiro, o “Conselho de Alvarenga Peixoto a seus filhos”, o mesmo que se atribui à Bárbara; em 1831, no quinto caderno, do mesmo Parnaso Brasileiro, é publicado  o soneto “Por Alvarenga Peixoto”, no dia em que sua filha completava 7 anos. Entretanto não há nenhum esclarecimento de como o cônego conseguiu as duas produções. Sabemos que muitos dos trabalhos publicados no Parnaso foram recolhidos por correspondência, daquelas, contudo, não se conhece exatamente a procedência.
Em 1865, Joaquim Norberto na introdução às Obras poéticas, de Alvarenga Peixoto, diz: "Figuram também nesta coleção, em último lugar, as sextilhas “Conselhos a meus filhos”. É bem sabido que esta composição impressa no Parnaso brasileiro e atribuída a Alvarenga Peixoto, é antes produção de sua esposa D. Bárbara Heliodora[12].
Em 1956, Domingos Carvalho da Silva publica Obras poéticas de Inácio José de Alvarenga Peixoto. Informa, na introdução, que reproduz a de Norberto, com a omissão de “Conselhos aos meus filhos” e de “A Maria Ifigênia — Quando completa sete anos de idade”. Segundo o organizador, “a simples leitura do seu texto demonstra não se tratar de obra de Alvarenga Peixoto”,[13] logo só poderia ser de Bárbara Heliodora.
         O estudioso retoma o problema de autoria em artigos publicados na imprensa paulista, propondo que uma análise ideológica, estilística e psicológica dos versos de Alvarenga viria resolver "um problema que os dados históricos apenas insinuam”, e acaba concluindo que os dois textos são de Barbara Heliodora. Desta opinião descorda M. Rodrigues Lapa. Segundo Rodrigues Lapa, Bárbara não teria cultura literária. Antônio Cândido também é um dos críticos que dá sua opinião sobre o assunto achando que os dois textos são de Bárbara Heliodora.
         Um fato nos chamou a atenção quando nos detivemos para estudar esta poetisa: a imensa bibliografia sobre ela — conseguimos levantar cerca de 50 títulos. Tendo ela produzido, na melhor das hipóteses, apenas duas peças literárias, é interessante que a crítica se detivesse em escrever tanto sobre essa mulher. Só podemos entender tal fato se levarmos em conta que ela está relacionada a um homem e a um momento importantes da nossa História, tanto literária quanto política.
         Mito ou verdade, a sua vida e a sua poesia compõem um quadro necessário à configuração de um momento crítico na cultura da metrópole. As minas de ouro já se haviam esgotado, o governo português apertava o cerco com impostos excessivos, os garimpeiros iam-se fixando noutra atividade, de agricultura e de pastoreio. A linguagem do símbolo ia perdendo a sua base e a imaginação do homem brasileiro começava a se soltar, dessacralizando valores até então indiscutíveis.
         Beatriz Francisca de Assis Brandão foi outra poetisa mineira que nasceu no século XVIII — 21 anos depois de Bárbara Heliodora e que vai atravessar todo o século XIX, vindo a falecer somente em 1868, no Rio de Janeiro. Beatriz Brandão nasceu na cidade de Vila Rica, então capital da província de Minas Gerais, atual Ouro Preto, a 29 de julho de 1779. Filha do sargento-mór Francisco Sanches Brandão e de Isabel Feliciana Narcisa de Seixas. Aqueles que se ocuparam de sua biografia dizem ser ela prima de Maria Joaquina Dorotéia de Seixas, a cantada Marília de Dirceu.
         Joaquim Norberto informa que ela viveu sempre celibatária, mas J. F. Velho Sobrinho diz que ela foi casada com o capitão Vicente Batista Rodrigues.
Circunscrita à educação da época, a instrução que recebeu limitou-se às noções elementares das primeiras letras e a algum rudimento de música, mas tirou partido da presença de um amigo da família para conhecer outros idiomas. Com ele aprendeu francês e italiano, o que lhe possibilitou o estudo de suas literaturas, estendendo seu conhecimento também para a nossa.
       Dedicou-se à poesia, à prosa e à tradução, assinando-se apenas com o prenome à guisa de pseudônimo, D. Beatriz, no período em que colaborava para a Marmota Fluminense. Seus primeiros trabalhos foram publicados por Januário da Cunha Barbosa, no segundo volume do Parnaso brasileiro, em 1831. Cabe ressaltar que somente ela e Delfina Benigna da Cunha são os dois únicos nomes femininos encontrados nessa antologia, lembrando que os dois poemas de Bárbara Heliodora estão alí atribuídos a seu marido.
         Depois de publicar seus versos no Parnaso brasileiro, Beatriz os reúne em volume sob o título de Cantos da mocidade, em 1856. A Semana, folhetim do Jornal do Comércio, de 1 de novembro de 1857, traz estampada a seguinte notícia: “Acaba de sair a luz o 1° volume dos Cantos da mocidade da nossa poetisa a Sra. D. Beatriz F. de Assis Brandão”, porém o articulista não fez nenhuma apreciação crítica. Limitou-se a dizer: “E louvando desde já a nobre coragem com que uma Senhora se apresenta diante do público, expondo os belos frutos de sua inteligência, adio para mais tarde o juízo sobre as suas produções poéticas”.
         A segunda obra publicada foi Carta de Leandro a Hero, e Carta de Hero a Leandro, também no Parnaso brasileiro.
Em 28 abril de 1868, já bastante conhecida, mereceu um artigo, no Correio Mercantil, intitulado “Prima de Marília”, onde se lê que “D. Beatriz era um ânimo varonil e uma inspirada poetisa.”
Na sessão de 25 de outubro de 1850, Joaquim Norberto de Sousa e Silva, João José de Sousa Silva Rio e Luís Antônio de Castro apresentaram o nome de Beatriz Brandão para ser sócia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a comissão encarregada de dar um parecer sobre a proposta acha conveniente que por ora não se delibere a respeito desta sua matéria, e sugere que ela se candidate a uma sociedade literária.
         Apesar de reconhecerem os méritos poéticos e intelectuais de D. Beatriz, seria difícil conceber que ela galgasse um lugar numa sociedade eminentemente composta por pessoas do sexo masculino. Basta lembrar que a mulher só tem acesso ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1965, e na Academia Brasileira de Letras, em 1977.
         D. Beatriz dedicou-se também ao ensino. Dirigiu em Vila Rica um educandário para meninas. E participou da nossa imprensa tendo publicado no Guanabara e na Marmota Fluminense, de 1852 a 1857.
         Como relata Joaquim Norberto, um pouco antes de sua morte pediu que lhe trouxessem seus originais. “Trouxeram-lhe um saquinho de cetim branco, atado por uma fita de seda, contendo alguns caderninhos de papel escritos e o depositou nas mãos de uma de suas amigas e pediu que lhes entregasse a S.M. a Imperatriz”. O Imperador confiou os originais a Joaquim Norberto para que os selecionasse e publicasse, entretanto este esclarece que por falta de dinheiro não lhe foi possível dar ao prelo as suas poesias.[14]
         É a patrona da cadeira n° 38, da Academia Mineira de Letras e pertenceu à Sociedade Promotora da Instituição Pública da Cidade de Ouro Preto.
Prisciliana Duarte de Almeida nasceu na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, a 3 de junho de 1867, filha do coronel Joaquim Roberto Duarte e de Rita de Almeida Duarte.
Na sua cidade natal, com Maria Clara Vilhena da Cunha, lançou um jornalzinho literário, O Colibri, escrito a mão, onde aparecem seus primeiros versos.
Em 1890 agrupa suas primeiras composições em Rumorejos, publicado, junto com Pirilampos, de Maria Clara Vilhena da Cunha, prefaciado por Adelina Lopes Vieira. São versos que aparecem na correspondência amorosa enviada a seu primo, e depois marido, o poeta e filólogo Sílvio Tibiriçá de Almeida. Neles Prisciliana fala de suas saudades. O que chama a atenção do crítico na leitura deste livro, é a simultaneidade de duas estéticas que se esforçam por se identificarem estilisticamente: uma que contextualmente deveria pender na direção da forma poética parnasiana ou da poesia "realista" da época, com Teófilo Dias, Alberto de Oliveira e Bilac quando a idéia da arte pela arte ganhava vanguardisticamente seus adeptos; e outra que, naturalmente, se dirigia para um conteúdo romântico, responsável pela formação literária da poetisa, impregnando-a de temas e gostos que lhe ficaram das leituras escolares e do convívio com a literatura dos românticos. Esta dubiedade entre, digamos, a "forma" e o "conteúdo" vai marcar a sua trajetória poética
Os afazeres domésticos não impediram Prisciliana de continuar seu trabalho. A 15 de outubro de 1897, funda e dirige, em São Paulo, onde passou a residir, a revista A Mensageira, de orientação feminina. No número 1, de 15 de outubro de 1897, assim se dirige as escritoras brasileiras:
Que a nossa revista seja como que um centro para o qual convirja a inteligência de todas as brasileiras! Que as mais aptas, as de mérito incontestável, nos prestam o concurso de suas luzes e enriqueçam as nossas páginas com as suas produções admiráveis e belas; que as que começam manejar a pena, ensaiando o vôo altivo, procurem aqui um ponto de apoio, sem o qual nenhum talento se manifesta; e que finalmente, todas as filhas desta grande terra nos dispensem o seu auxílio e um pouco de boa vontade e benevolência.
Em 1906, reúne suas poesias no volume Sombras, prefaciada pelo Conde de Afonso Celso. Neste livro além de poesia encontramos algumas traduções[15]. Ele nos serve também de excelente guia para o conhecimento das intelectuais do século passado, pois composições ali presentes aparecem dedicadas a outras mulheres. Sombras mereceu crítica de Maria Amélia Vaz de Carvalho, um dos maiores nomes femininos de Portugal. Em abril de 1907 o Jornal do Comércio, estampa seu artigo "Uma poetisa brasileira":
O livro da Sra. D. Prisciliana Duarte de Almeida é principalmente o livro de uma mãe, de uma esposa dedicada, de uma mulher que, fora de toda a dúvida, sabe presidir a economia de sua casa com aquela ordem, harmonia e encanto que na sua obra transluz.
Em 1908 publica Páginas infantis e em 1914 edita o Livro das aves, em prosa e verso, destinados ao público infantil.
            Em novembro de 1909, Prisciliana Duarte de Almeida é convidada, com o marido, para fundar a Academia Paulista de Letras, onde ingressa na cadeira n° 8, patrocinada por Bárbara Heliodora. Segundo informa Aureliano Leite, sucessor de Prisciliana, ela teria feito tal escolha não só porque admirasse a poetisa, como também, pelo fato de ter sido ela sua tia-trisavó.
Segundo Oliveira Ribeiro Neto,
atingiu, o nome de Prisciliana Duarte de Almeida, na primeira década do século XX, no Brasil, as maiores culminâncias e se justifica a sua entrada triunfal na Academia Paulista de Letras, embora haja quem julgue que ela só ali se sentou por entrar pelo braço do marido. Não há dúvida que a presença de Sílvio de Almeida na Academia contribuiu para a aceitação por parte de Prisciliana da honra que se lhe oferecia, pois tinha assim, ao contrário das outras senhoras escritoras [Francisca Júlia e Zalina Rolim] que na ocasião foram convidadas e não puderam aceitar a investidura acadêmica, o braço do marido literato ao qual se apoiaria, à maneira da época, para comparecer às sessões do sodalício.
Na imprensa colaborou em vários periódicos: Almanaque Brasileiro Garnier, A Estação (1889-1893), Rua do Ouvidor (1898,1901), A Semana (1893), Tribuna Liberal, A Família, todos do Rio de Janeiro, e O Lutador (1892), de São Paulo e, como já nos referimos, fundou e dirigiu A Mensageira (1897-1899).
Escreveu com o pseudônimo de Perpétua Vale e falece em Campinas a 13 de junho de 1944.
            Vale a pena salientar o sentido de inspiração, de luta pela criação literária, de metapoesia que, conscientemente, aparece no seu poema, como na estrofe:
Por isso dentro em minha alma
Dá-se um conflito travado
Entre o desejo infinito
E o pensamento acanhado!
Aos 75 anos de idade, em 1939, publica o seu último livro de versos, Vetiver, com a indicação de que os poemas são de "vários tempos", verifica-se que a poetisa, não conseguiu se abrir ao modernismo (embora existam dele alguns vestígios), continuando repartida entre uma retórica que se queria parnasiana e uma temática romântica.
 

OBRAS de Beatriz Francisca de Assis Brandão

Poesias. In: BARBOSA, Januário da Cunha. Parnaso brasileiro ou collecção das melhores poesias dos poetas do Brasil, tanto inéditas, como já impressas. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1831.v.2, cad. 5°, p.27-38
Carta de Leandro à Hero, traduzida do francês, e dedicada à Senhor a D. Delfina Benigna da Cunha, e Carta de Hero a Leandro. In: BARBOSA, Januário da Cunha. Parnaso brasileiro ou collecção das melhores poesias dos poetas do Brasil, tanto inéditas, como já impressas. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1832. v.2, cad. 7°, p. 7-28.[16]
Cantos da mocidade. Rio de Janeiro: Emp. Typ. Dous de Dezembro,1856. v. I.
Saudação à Ilma. e Exma. Sra. Dona Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Velasco. Poesia em versos hendecassílabos, que vem em um livro anunciado por B.X.P. de Sousa, em 1859.
Catão. Drama trágico pelo abade Pedro Metastásio, traduzido do italiano. Rio de Janeiro: Typ. B.X.P. de Sousa, 1860. É precedido de uma dedicatória em versos à princesa Dona Januária.
Lágrimas do Brasil. Poesia em versos hendecassílabos, no mausoléu levantado à memória da excelsa rainha de Portugal, dona Estefânia. Rio de Janeiro, 1860.
As comendas. Rio de Janeiro, s. d. Poesia.
Romances imitados de Gesner. Rio de Janeiro: Typ. B.X.P. de Sousa, s.d. Poesia. Contém dois pequenos romances em versos: “O caçador” e “Lelia e Nerina”. É um opúsculo de 32 páginas.
Óperas traduzidas para o português: Alexandre na Índia, José no Egito, Sonho de Cipião, Angélica e Medoro, Semíramis reconhecida, Diana e Endimião.
Drama à coroação de D. Pedro I, posto em música, cantado no teatro. Não foi impresso.
Drama ao nascimento de D. Pedro II, posto em música, cantado no teatro. Não foi impresso.
Cantata aos anos da imperatriz D. Leopoldina.

OBRAS de Prisciliana Duarte de Almeida

Pirilampos e Rumorejos[17]. Rio de Janeiro: Tip. lit. de Carlos Gaspar da Silva, 1890 (poesia). Prefácio de Adelina Lopes Vieira. Pirilampos foi escrito por Maria Clara Vilhena da Cunha Santos.
Sombras. Pref. Conde de Afonso Celso. São Paulo: Typ. do Brazil, Rothschild & CO. 1906.
Páginas infantis. São Paulo: Escolas Profissionais do Liceu Coração de Jesus, 1908.
O livro das aves. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1914.
Vetiver. Poesias de vários tempos. São Paulo: s. ed. 1939.
Antologia poética. Pref. e seleção de Oliveira Ribeiro Neto. São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, Conselho Estadual de Cultura, 1976.


[1] Doutora em Letras e Chefe do Arquivo-Museu deLiteratura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
[2] ÁVILA NETO, Maria Inácia d’. O autoritarismo e a mulher. Rio de Janeiro: Achiamé, 1980. p. 38.
[3] LEITE, Miriam Moreira (org.). A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: antologia de textos de viajantes estrangeiros. São Paulo: Hucitec; Brasília: Pró-Memória, INL, 1984. p. 70.
[4] EXPILLY, Charles. Mulheres e costumes do Brasil. Trad. Gastão Penalva. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1977. p. 269.
[5] LEITE, Miriam Moreira, op. cit., p. 68.
[6] RICH, Adrienne. On lies, secrets and silence. Virago, 1984. p. 35.
[7] MUZART, Zahidé Lupinacci. Mulheres do século XIX: história de um projeto. In: Seminário Nacional Mulher e Literatura. Niterói (RJ): Eduff, 1999. v. 2. p. 788-791.
[8] Alguns estudiosos se detêm na grafia de seu prenome. Uns grafam com H outros com E, optamos pelo H, seguindo o Dicionário etimológico de Antenor Nascentes, que diz provir Heliodoro, do grego Heliodoros, de Hélio, Hélios, o deus do sol, e dôron, presente do sol, pelo latim Heliodoru. Aureliano Leite não aceita esta grafia, diz o estudioso “que prefere grafar Heliodora com E não só porque era assim que se assinava, mas também porque por Eliodora, com E, se conhece uma variedade de tulipa, flor. Pode pois o seu nome não se originar de Helios, nem ser o feminino de Heliodoro, como quer Basílio de Magalhães. Ela era Eliodora, como outras são Hortênsia, Rosa, Violeta, etc. Acrescente-se que o seu marido sobressaía entre os contemporâneos pela cultura clássica e não iria admitir que ela escrevesse errado o próprio nome”.
[9] Para maiores informações sobre a situação financeira do casal Alvarenga ver: “Minas, fazendas e outros bens de Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora”, publicado por Miguel Costa Filho, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
[10] SILVA, Joaquim Norberto de Sousa e. O drama de Bárbara e Alvarenga. Minas Gerais, Belo Horizonte, 24 maio 1969. (Extraído do livro História da Conjuração Mineira, p. 176-186).
[11] SILVA, Joaquim Norberto de Sousa e. Brasileiras célebres. Rio de Janeiro: B.L. Garnier. 1862.
[12] SILVA, J. Norberto de Sousa e. Obra poética, de Inácio José de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Garnier, 1865, p. 14.
[13]SILVA, Domingos Carvalho da. Obras poéticas, de Inácio José de Alvarenga Peixoto. São Paulo: Clube de Poesia, 1956, p. 12.
[14] SILVA, Joaquim Norberto de Sousa. D. Beatriz de Assis. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
 Brasileiro. Rio de Janeiro, v. 55, II, p. 73, 1893.
[15] Destacamos entre elas: "Viajante noturno", de Goethe; "No mar de coral", de Júlio Verne; e um poema sem título, de Heine.
[16] Segundo Sacramento Blake e Inocêncio Francisco da Silva, houve uma segunda edição publicada, no Rio de Janeiro, por B.X. P. de Sousa em 1859.
[17] Encontrado na Biblioteca Nacional.