quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

NEM SÓ DE DRUMMOND E GUIMARÃES ROSA VIVE A LITERATURA MINEIRA

NEM SÓ DE DRUMMOND E GUIMARÃES ROSA VIVE A LITERATURA MINEIRA
Eliane Vasconcellos[1]
       A educação feminina, na virada do século, estava estreitamente relacionada com as atividades desenvolvidas pelo “belo sexo”. A mulher da classe social mais alta deveria aprender apenas algumas das chamadas prendas de sociedade: tocar piano, falar francês, bordar, costurar. A agulha se sobrepunha à caneta. Isto ocorria porque a mulher era formada para casar e não para manter-se. O cuidado com a casa e com os filhos era a sua aspiração máxima. Para Maria Inácia d’Ávila Neto,
A escolaridade das mulheres obedeceu a sérios preconceitos que envolvem um problema mais amplo: a valorização do papel de dona-de-casa. A orientação familiar é ainda eminentemente voltada para a preparação da mulher para o casamento[2].
         Enquanto os jovens da classe social mais alta iam, de início, para a Europa estudar e depois com o surgimento das escolas superiores no Brasil, dirigiam-se para São Paulo, Recife e Rio de Janeiro, as moças ficavam em condição de semi-escravatura. Mesmo as senhoras mais ricas da sociedade eram analfabetas. Depois da vinda da família real para o Brasil, a situação da mulher sofre algumas modificações. Nesta época as recepções começaram a se tornar freqüentes e se exigia a participação delas.
Os dotes mais apreciados na sociedade são os da dança e do canto, porque permitem brilhar nas reuniões. Na alta sociedade exige-se também música, principalmente piano, bem como o conhecimento das línguas francesa e inglesa e de desenho. As moças aprendem com facilidade a traduzir e a escrever a língua francesa, mas encontram em geral certa timidez em falá-la[3].
         A educação no Império continua bastante deficiente, e o que se ensinava no país era destinado aos meninos. Havia o ensino elementar, secundário e superior, sendo que as meninas só tinham acesso ao elementar, isto porque “uma mulher já é bastante instruída, quando lê corretamente as suas orações e sabe escrever a receita da goiabada. Mais do que isto seria um perigo para o lar”[4].
         A completa falta de instrução contribuiu para que ela assumisse atitudes de incapacidade e de medo. Ela estava quase que completamente excluída do processo educacional. Não era estimulada a desenvolver sua capacidade intelectiva. Segundo John Luccok, a leitura feminina devia restringir-se ao livro religioso: “estava assentado que o saber ler para elas não devia ir além do livro de rezas, pois isso lhes seria inútil, nem tampouco se desejava que escrevessem, a fim de que não fizessem... um mau uso dessa arte”[5].
           Mesmo assim muitas mulheres souberam equilibrar a relação da agulha e da caneta e transgrediram os padrões culturais. Através de sua produção nos legaram uma tradição que é importante ser resgatada.
O escrever para a mulher requeria muita força de vontade e a própria transcendência do seu sexo, pois se afastavam de sua atividade primordial de esposa e de mãe, deixando de lado quem ela devia servir e cuidar. Elas conseguiram burlar esta imposição e nos legaram obras que sem dúvida alguma precisam ser recuperadas. Temos de “ver com novos olhos, de penetrar um texto a partir de uma nova direção crítica, um ato de sobrevivência”[6].
            Esta comunicação é o resultado de um projeto que tem como objetivo primeiro o levantamento de texto de escritoras brasileiras do século XIX. A iniciativa de organizar um grupo de pesquisa em torno deste tema partiu da professora Zahidé Muzart que me convidou para fazer parte do projeto, que foi apresentado e aprovado[7] pelo CNPq. O grupo inicial era composto por Zahidé Muzart, da Universidade Federal de Santa Catarina, na coordenação; Rita Schmidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Eliane Vasconcellos, da Fundação Casa de Rui Barbosa. Dada a amplitude do trabalho, outras pesquisadoras que já desenvolviam este tipo de levantamento em seus estados, se integraram ao grupo.
           O primeiro volume da nossa antologia já foi publicado, e está hoje em segunda edição, contempla as escritoras nascidas até 1860 e consta de 52 nomes. Delas escolhemos para apresentar hoje 3 poetisas mineiras: Bárbara Heliodora, Beatriz Brandão e Prisciliana Duarte de Almeida, sendo que esta última não conxta do  primeiro volume da antologia.
         Tivemos o cuidado de fazer um estudo criterioso de cada uma das escritoras pois a nossa intenção é a de produzir artigos sobre elas, não simples verbetes. Não queríamos também saber se esta literatura escrita por mulheres era melhor ou pior do que a escrita pelos homens, mas sim descobrir o que ela representa na nossa historiografia literária.
         Bárbara Heliodora[8], assim como Marília, foi uma das musas da Inconfidência. Seu nome completo era Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira. Teria nascido em fins de 1758, na cidade de São João Del Rei. Para alguns estudiosos, era descendente de uma das famílias paulistas mais ilustres: a de Amador Bueno, o Aclamado. Seus pais não possuíam uma situação financeira estável.[9]
         Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora viveram juntos por algum tempo, só se casaram, por portaria do bispo de Mariana, de 22 de dezembro de 1781, quando Maria Ifigênia, filha do casal, já contava três anos de idade. Joaquim Norberto de Sousa e Silva nos diz que o coronel Alvarenga se ligou

a uma senhora distinta pelo seus dotes naturais e esmerada educação. [...] Foi D. Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, [...] para Alvarenga o que foi D. Maria Joaquina Dorotéia de Seixas para Gonzaga. Ambos eternizaram em seus versos as duas belezas mineiras, que faziam o encanto de São João Del Rei e de Vila Rica. Mas a amante, a noiva e a esposa do coronel Alvarenga era superior à amante de Gonzaga, pela imaginação brilhante de que a dotara a natureza, pelo estro ardente que possuía. E o comércio das musas entreteve por algum tempo o amor em que se abrasavam, até que os ligaram os laços conjugais[10].
         Desta união nasceram quatro filhos. Os estudiosos de Bárbara Heliodora fazem sempre menção à beleza de sua filha Maria Ifigênia. Segundo Joaquim Norberto “tão formosa aos doze anos que lhe deram o nome de princesa do Brasil e essa antonomásia tornou-se popular”[11].
         Alvarenga Peixoto foi preso em 1789. Em abril de 1792, teve sua sentença de morte declarada, sendo comutada, em 2 de maio 1793, para a de degredo e seus filhos e netos foram declarados infames. Diz a tradição que, quando os inconfidentes foram traídos, Alvarenga Peixoto, querendo amenizar a pena que receberia, pensou em denunciar ao Visconde de Barbacena os pormenores da revolução. Antes, porém, resolveu conversar com sua esposa que o dissuadiu de tal intento. Américo Werneck talvez seja o responsável por esta tradição, pois romanceia o fato, reconstituindo em A heroína da Inconfidência o diálogo travado entre os dois, onde realça o caráter forte da poetisa.
        Os bens do casal foram seqüestrados em 1789, por ocasião do degredo de Alvarenga Peixoto. Depois, Bárbara Heliodora solicitou a devolução de metade de seu patrimônio, pois era casada “com carta de metade” alegando que de seu matrimônio existiam filhos. No que foi atendida.
A poetisa viveu entre a Vila de Campanha da Princesa e a de São Gonçalo de Sapucaí. Segundo alguns nossa poetisa foi declarada demente e teria morrido maio de 1819, na freguesia de São Gonçalo do Sapucaí, mas de acordo com o espólio não morreu tão desgraçada como querem alguns autores. Quanto ao problema da demência de Bárbara há alguns esclarecimentos que precisam ser feitos. Domingo Carvalho da Silva baseado em documentos informa que foi uma manobra usada para anular uma escritura de venda de bens. Mas João Evangelista de Alvarenga, declara “ao dito seu pai que por amor do Brasil foi degredado, perdendo sua mãe o juízo”, dizendo depois, em 1813, achar-se sua mãe “possuída de uma contínua melancolia”.
         A história de que Bárbara Heliodora teria morrido demente, recitando poemas pelas ruas de Campanha, com os cabelos soltos, desgrenhados, olhar desvairado e vestidos rotos é um mito. Provavelmente, em decorrência dos problemas que enfrentou, ela tenha passado por um estado de depressão que, mal interpretado, deu origem a sua propagada loucura. Como vimos, após a morte de Alvarenga, ela conseguiu a devolução de metade de seus bens, estando à frente dos negócios até os cinqüenta e poucos anos.
         A produção literária de Bárbara Heliodora é bastante reduzida e controvertida. A ela são atribuídos os poemas “Conselhos a meus filhos” e um soneto dedicado a Maria Ifigênia, mas nem todos os estudiosos são unânimes nesta atribuição.
         Em 1830, Januário da Cunha Barbosa publica no quarto caderno do Parnaso Brasileiro, o “Conselho de Alvarenga Peixoto a seus filhos”, o mesmo que se atribui à Bárbara; em 1831, no quinto caderno, do mesmo Parnaso Brasileiro, é publicado  o soneto “Por Alvarenga Peixoto”, no dia em que sua filha completava 7 anos. Entretanto não há nenhum esclarecimento de como o cônego conseguiu as duas produções. Sabemos que muitos dos trabalhos publicados no Parnaso foram recolhidos por correspondência, daquelas, contudo, não se conhece exatamente a procedência.
Em 1865, Joaquim Norberto na introdução às Obras poéticas, de Alvarenga Peixoto, diz: "Figuram também nesta coleção, em último lugar, as sextilhas “Conselhos a meus filhos”. É bem sabido que esta composição impressa no Parnaso brasileiro e atribuída a Alvarenga Peixoto, é antes produção de sua esposa D. Bárbara Heliodora[12].
Em 1956, Domingos Carvalho da Silva publica Obras poéticas de Inácio José de Alvarenga Peixoto. Informa, na introdução, que reproduz a de Norberto, com a omissão de “Conselhos aos meus filhos” e de “A Maria Ifigênia — Quando completa sete anos de idade”. Segundo o organizador, “a simples leitura do seu texto demonstra não se tratar de obra de Alvarenga Peixoto”,[13] logo só poderia ser de Bárbara Heliodora.
         O estudioso retoma o problema de autoria em artigos publicados na imprensa paulista, propondo que uma análise ideológica, estilística e psicológica dos versos de Alvarenga viria resolver "um problema que os dados históricos apenas insinuam”, e acaba concluindo que os dois textos são de Barbara Heliodora. Desta opinião descorda M. Rodrigues Lapa. Segundo Rodrigues Lapa, Bárbara não teria cultura literária. Antônio Cândido também é um dos críticos que dá sua opinião sobre o assunto achando que os dois textos são de Bárbara Heliodora.
         Um fato nos chamou a atenção quando nos detivemos para estudar esta poetisa: a imensa bibliografia sobre ela — conseguimos levantar cerca de 50 títulos. Tendo ela produzido, na melhor das hipóteses, apenas duas peças literárias, é interessante que a crítica se detivesse em escrever tanto sobre essa mulher. Só podemos entender tal fato se levarmos em conta que ela está relacionada a um homem e a um momento importantes da nossa História, tanto literária quanto política.
         Mito ou verdade, a sua vida e a sua poesia compõem um quadro necessário à configuração de um momento crítico na cultura da metrópole. As minas de ouro já se haviam esgotado, o governo português apertava o cerco com impostos excessivos, os garimpeiros iam-se fixando noutra atividade, de agricultura e de pastoreio. A linguagem do símbolo ia perdendo a sua base e a imaginação do homem brasileiro começava a se soltar, dessacralizando valores até então indiscutíveis.
         Beatriz Francisca de Assis Brandão foi outra poetisa mineira que nasceu no século XVIII — 21 anos depois de Bárbara Heliodora e que vai atravessar todo o século XIX, vindo a falecer somente em 1868, no Rio de Janeiro. Beatriz Brandão nasceu na cidade de Vila Rica, então capital da província de Minas Gerais, atual Ouro Preto, a 29 de julho de 1779. Filha do sargento-mór Francisco Sanches Brandão e de Isabel Feliciana Narcisa de Seixas. Aqueles que se ocuparam de sua biografia dizem ser ela prima de Maria Joaquina Dorotéia de Seixas, a cantada Marília de Dirceu.
         Joaquim Norberto informa que ela viveu sempre celibatária, mas J. F. Velho Sobrinho diz que ela foi casada com o capitão Vicente Batista Rodrigues.
Circunscrita à educação da época, a instrução que recebeu limitou-se às noções elementares das primeiras letras e a algum rudimento de música, mas tirou partido da presença de um amigo da família para conhecer outros idiomas. Com ele aprendeu francês e italiano, o que lhe possibilitou o estudo de suas literaturas, estendendo seu conhecimento também para a nossa.
       Dedicou-se à poesia, à prosa e à tradução, assinando-se apenas com o prenome à guisa de pseudônimo, D. Beatriz, no período em que colaborava para a Marmota Fluminense. Seus primeiros trabalhos foram publicados por Januário da Cunha Barbosa, no segundo volume do Parnaso brasileiro, em 1831. Cabe ressaltar que somente ela e Delfina Benigna da Cunha são os dois únicos nomes femininos encontrados nessa antologia, lembrando que os dois poemas de Bárbara Heliodora estão alí atribuídos a seu marido.
         Depois de publicar seus versos no Parnaso brasileiro, Beatriz os reúne em volume sob o título de Cantos da mocidade, em 1856. A Semana, folhetim do Jornal do Comércio, de 1 de novembro de 1857, traz estampada a seguinte notícia: “Acaba de sair a luz o 1° volume dos Cantos da mocidade da nossa poetisa a Sra. D. Beatriz F. de Assis Brandão”, porém o articulista não fez nenhuma apreciação crítica. Limitou-se a dizer: “E louvando desde já a nobre coragem com que uma Senhora se apresenta diante do público, expondo os belos frutos de sua inteligência, adio para mais tarde o juízo sobre as suas produções poéticas”.
         A segunda obra publicada foi Carta de Leandro a Hero, e Carta de Hero a Leandro, também no Parnaso brasileiro.
Em 28 abril de 1868, já bastante conhecida, mereceu um artigo, no Correio Mercantil, intitulado “Prima de Marília”, onde se lê que “D. Beatriz era um ânimo varonil e uma inspirada poetisa.”
Na sessão de 25 de outubro de 1850, Joaquim Norberto de Sousa e Silva, João José de Sousa Silva Rio e Luís Antônio de Castro apresentaram o nome de Beatriz Brandão para ser sócia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a comissão encarregada de dar um parecer sobre a proposta acha conveniente que por ora não se delibere a respeito desta sua matéria, e sugere que ela se candidate a uma sociedade literária.
         Apesar de reconhecerem os méritos poéticos e intelectuais de D. Beatriz, seria difícil conceber que ela galgasse um lugar numa sociedade eminentemente composta por pessoas do sexo masculino. Basta lembrar que a mulher só tem acesso ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1965, e na Academia Brasileira de Letras, em 1977.
         D. Beatriz dedicou-se também ao ensino. Dirigiu em Vila Rica um educandário para meninas. E participou da nossa imprensa tendo publicado no Guanabara e na Marmota Fluminense, de 1852 a 1857.
         Como relata Joaquim Norberto, um pouco antes de sua morte pediu que lhe trouxessem seus originais. “Trouxeram-lhe um saquinho de cetim branco, atado por uma fita de seda, contendo alguns caderninhos de papel escritos e o depositou nas mãos de uma de suas amigas e pediu que lhes entregasse a S.M. a Imperatriz”. O Imperador confiou os originais a Joaquim Norberto para que os selecionasse e publicasse, entretanto este esclarece que por falta de dinheiro não lhe foi possível dar ao prelo as suas poesias.[14]
         É a patrona da cadeira n° 38, da Academia Mineira de Letras e pertenceu à Sociedade Promotora da Instituição Pública da Cidade de Ouro Preto.
Prisciliana Duarte de Almeida nasceu na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, a 3 de junho de 1867, filha do coronel Joaquim Roberto Duarte e de Rita de Almeida Duarte.
Na sua cidade natal, com Maria Clara Vilhena da Cunha, lançou um jornalzinho literário, O Colibri, escrito a mão, onde aparecem seus primeiros versos.
Em 1890 agrupa suas primeiras composições em Rumorejos, publicado, junto com Pirilampos, de Maria Clara Vilhena da Cunha, prefaciado por Adelina Lopes Vieira. São versos que aparecem na correspondência amorosa enviada a seu primo, e depois marido, o poeta e filólogo Sílvio Tibiriçá de Almeida. Neles Prisciliana fala de suas saudades. O que chama a atenção do crítico na leitura deste livro, é a simultaneidade de duas estéticas que se esforçam por se identificarem estilisticamente: uma que contextualmente deveria pender na direção da forma poética parnasiana ou da poesia "realista" da época, com Teófilo Dias, Alberto de Oliveira e Bilac quando a idéia da arte pela arte ganhava vanguardisticamente seus adeptos; e outra que, naturalmente, se dirigia para um conteúdo romântico, responsável pela formação literária da poetisa, impregnando-a de temas e gostos que lhe ficaram das leituras escolares e do convívio com a literatura dos românticos. Esta dubiedade entre, digamos, a "forma" e o "conteúdo" vai marcar a sua trajetória poética
Os afazeres domésticos não impediram Prisciliana de continuar seu trabalho. A 15 de outubro de 1897, funda e dirige, em São Paulo, onde passou a residir, a revista A Mensageira, de orientação feminina. No número 1, de 15 de outubro de 1897, assim se dirige as escritoras brasileiras:
Que a nossa revista seja como que um centro para o qual convirja a inteligência de todas as brasileiras! Que as mais aptas, as de mérito incontestável, nos prestam o concurso de suas luzes e enriqueçam as nossas páginas com as suas produções admiráveis e belas; que as que começam manejar a pena, ensaiando o vôo altivo, procurem aqui um ponto de apoio, sem o qual nenhum talento se manifesta; e que finalmente, todas as filhas desta grande terra nos dispensem o seu auxílio e um pouco de boa vontade e benevolência.
Em 1906, reúne suas poesias no volume Sombras, prefaciada pelo Conde de Afonso Celso. Neste livro além de poesia encontramos algumas traduções[15]. Ele nos serve também de excelente guia para o conhecimento das intelectuais do século passado, pois composições ali presentes aparecem dedicadas a outras mulheres. Sombras mereceu crítica de Maria Amélia Vaz de Carvalho, um dos maiores nomes femininos de Portugal. Em abril de 1907 o Jornal do Comércio, estampa seu artigo "Uma poetisa brasileira":
O livro da Sra. D. Prisciliana Duarte de Almeida é principalmente o livro de uma mãe, de uma esposa dedicada, de uma mulher que, fora de toda a dúvida, sabe presidir a economia de sua casa com aquela ordem, harmonia e encanto que na sua obra transluz.
Em 1908 publica Páginas infantis e em 1914 edita o Livro das aves, em prosa e verso, destinados ao público infantil.
            Em novembro de 1909, Prisciliana Duarte de Almeida é convidada, com o marido, para fundar a Academia Paulista de Letras, onde ingressa na cadeira n° 8, patrocinada por Bárbara Heliodora. Segundo informa Aureliano Leite, sucessor de Prisciliana, ela teria feito tal escolha não só porque admirasse a poetisa, como também, pelo fato de ter sido ela sua tia-trisavó.
Segundo Oliveira Ribeiro Neto,
atingiu, o nome de Prisciliana Duarte de Almeida, na primeira década do século XX, no Brasil, as maiores culminâncias e se justifica a sua entrada triunfal na Academia Paulista de Letras, embora haja quem julgue que ela só ali se sentou por entrar pelo braço do marido. Não há dúvida que a presença de Sílvio de Almeida na Academia contribuiu para a aceitação por parte de Prisciliana da honra que se lhe oferecia, pois tinha assim, ao contrário das outras senhoras escritoras [Francisca Júlia e Zalina Rolim] que na ocasião foram convidadas e não puderam aceitar a investidura acadêmica, o braço do marido literato ao qual se apoiaria, à maneira da época, para comparecer às sessões do sodalício.
Na imprensa colaborou em vários periódicos: Almanaque Brasileiro Garnier, A Estação (1889-1893), Rua do Ouvidor (1898,1901), A Semana (1893), Tribuna Liberal, A Família, todos do Rio de Janeiro, e O Lutador (1892), de São Paulo e, como já nos referimos, fundou e dirigiu A Mensageira (1897-1899).
Escreveu com o pseudônimo de Perpétua Vale e falece em Campinas a 13 de junho de 1944.
            Vale a pena salientar o sentido de inspiração, de luta pela criação literária, de metapoesia que, conscientemente, aparece no seu poema, como na estrofe:
Por isso dentro em minha alma
Dá-se um conflito travado
Entre o desejo infinito
E o pensamento acanhado!
Aos 75 anos de idade, em 1939, publica o seu último livro de versos, Vetiver, com a indicação de que os poemas são de "vários tempos", verifica-se que a poetisa, não conseguiu se abrir ao modernismo (embora existam dele alguns vestígios), continuando repartida entre uma retórica que se queria parnasiana e uma temática romântica.
 

OBRAS de Beatriz Francisca de Assis Brandão

Poesias. In: BARBOSA, Januário da Cunha. Parnaso brasileiro ou collecção das melhores poesias dos poetas do Brasil, tanto inéditas, como já impressas. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1831.v.2, cad. 5°, p.27-38
Carta de Leandro à Hero, traduzida do francês, e dedicada à Senhor a D. Delfina Benigna da Cunha, e Carta de Hero a Leandro. In: BARBOSA, Januário da Cunha. Parnaso brasileiro ou collecção das melhores poesias dos poetas do Brasil, tanto inéditas, como já impressas. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1832. v.2, cad. 7°, p. 7-28.[16]
Cantos da mocidade. Rio de Janeiro: Emp. Typ. Dous de Dezembro,1856. v. I.
Saudação à Ilma. e Exma. Sra. Dona Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Velasco. Poesia em versos hendecassílabos, que vem em um livro anunciado por B.X.P. de Sousa, em 1859.
Catão. Drama trágico pelo abade Pedro Metastásio, traduzido do italiano. Rio de Janeiro: Typ. B.X.P. de Sousa, 1860. É precedido de uma dedicatória em versos à princesa Dona Januária.
Lágrimas do Brasil. Poesia em versos hendecassílabos, no mausoléu levantado à memória da excelsa rainha de Portugal, dona Estefânia. Rio de Janeiro, 1860.
As comendas. Rio de Janeiro, s. d. Poesia.
Romances imitados de Gesner. Rio de Janeiro: Typ. B.X.P. de Sousa, s.d. Poesia. Contém dois pequenos romances em versos: “O caçador” e “Lelia e Nerina”. É um opúsculo de 32 páginas.
Óperas traduzidas para o português: Alexandre na Índia, José no Egito, Sonho de Cipião, Angélica e Medoro, Semíramis reconhecida, Diana e Endimião.
Drama à coroação de D. Pedro I, posto em música, cantado no teatro. Não foi impresso.
Drama ao nascimento de D. Pedro II, posto em música, cantado no teatro. Não foi impresso.
Cantata aos anos da imperatriz D. Leopoldina.

OBRAS de Prisciliana Duarte de Almeida

Pirilampos e Rumorejos[17]. Rio de Janeiro: Tip. lit. de Carlos Gaspar da Silva, 1890 (poesia). Prefácio de Adelina Lopes Vieira. Pirilampos foi escrito por Maria Clara Vilhena da Cunha Santos.
Sombras. Pref. Conde de Afonso Celso. São Paulo: Typ. do Brazil, Rothschild & CO. 1906.
Páginas infantis. São Paulo: Escolas Profissionais do Liceu Coração de Jesus, 1908.
O livro das aves. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1914.
Vetiver. Poesias de vários tempos. São Paulo: s. ed. 1939.
Antologia poética. Pref. e seleção de Oliveira Ribeiro Neto. São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, Conselho Estadual de Cultura, 1976.


[1] Doutora em Letras e Chefe do Arquivo-Museu deLiteratura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
[2] ÁVILA NETO, Maria Inácia d’. O autoritarismo e a mulher. Rio de Janeiro: Achiamé, 1980. p. 38.
[3] LEITE, Miriam Moreira (org.). A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: antologia de textos de viajantes estrangeiros. São Paulo: Hucitec; Brasília: Pró-Memória, INL, 1984. p. 70.
[4] EXPILLY, Charles. Mulheres e costumes do Brasil. Trad. Gastão Penalva. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1977. p. 269.
[5] LEITE, Miriam Moreira, op. cit., p. 68.
[6] RICH, Adrienne. On lies, secrets and silence. Virago, 1984. p. 35.
[7] MUZART, Zahidé Lupinacci. Mulheres do século XIX: história de um projeto. In: Seminário Nacional Mulher e Literatura. Niterói (RJ): Eduff, 1999. v. 2. p. 788-791.
[8] Alguns estudiosos se detêm na grafia de seu prenome. Uns grafam com H outros com E, optamos pelo H, seguindo o Dicionário etimológico de Antenor Nascentes, que diz provir Heliodoro, do grego Heliodoros, de Hélio, Hélios, o deus do sol, e dôron, presente do sol, pelo latim Heliodoru. Aureliano Leite não aceita esta grafia, diz o estudioso “que prefere grafar Heliodora com E não só porque era assim que se assinava, mas também porque por Eliodora, com E, se conhece uma variedade de tulipa, flor. Pode pois o seu nome não se originar de Helios, nem ser o feminino de Heliodoro, como quer Basílio de Magalhães. Ela era Eliodora, como outras são Hortênsia, Rosa, Violeta, etc. Acrescente-se que o seu marido sobressaía entre os contemporâneos pela cultura clássica e não iria admitir que ela escrevesse errado o próprio nome”.
[9] Para maiores informações sobre a situação financeira do casal Alvarenga ver: “Minas, fazendas e outros bens de Alvarenga Peixoto e Bárbara Heliodora”, publicado por Miguel Costa Filho, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
[10] SILVA, Joaquim Norberto de Sousa e. O drama de Bárbara e Alvarenga. Minas Gerais, Belo Horizonte, 24 maio 1969. (Extraído do livro História da Conjuração Mineira, p. 176-186).
[11] SILVA, Joaquim Norberto de Sousa e. Brasileiras célebres. Rio de Janeiro: B.L. Garnier. 1862.
[12] SILVA, J. Norberto de Sousa e. Obra poética, de Inácio José de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Garnier, 1865, p. 14.
[13]SILVA, Domingos Carvalho da. Obras poéticas, de Inácio José de Alvarenga Peixoto. São Paulo: Clube de Poesia, 1956, p. 12.
[14] SILVA, Joaquim Norberto de Sousa. D. Beatriz de Assis. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
 Brasileiro. Rio de Janeiro, v. 55, II, p. 73, 1893.
[15] Destacamos entre elas: "Viajante noturno", de Goethe; "No mar de coral", de Júlio Verne; e um poema sem título, de Heine.
[16] Segundo Sacramento Blake e Inocêncio Francisco da Silva, houve uma segunda edição publicada, no Rio de Janeiro, por B.X. P. de Sousa em 1859.
[17] Encontrado na Biblioteca Nacional.

3 comentários:

  1. Muito bom! Minas nunca sai de dentro do "ser mineiro", mesmo morando em outro Estado. Sou de Cambui - sul de Minas.

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  2. Gostei muito desta postagem! Parabéns. Dos muitos autores e autoras citados, alguns eu conheço e afirmo que são ótimos, outros vou procurar, orientado por sua citações.
    Êta trem bão essa tar de Minas Gerais!

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